Para ler ouvindo “Fix You” – Coldplay
Te vi e você me pareceu tão familiar. Não sei se sonhei, se já esbarrei com você e sai meio desnorteado, mas agora era real. E era agora ou nunca.
Você estava tão linda naquela praça, caderno em mãos e headphones. Seu nariz estava vermelho de frio e via suas mãos caminharem furiosamente pelo papel com algo que eu não conseguia vislumbrar de onde estava. Até que você parou e me encarou, pelo menos foi o que achei num primeiro momento, mas depois percebi que na verdade você estava com o olhar vago de quem olha para o nada, e uma lágrima escorreu por seu rosto.
Caminhei ficando um pouco atrás de onde você estava, sentando nos degraus da escada. Vi que você finalizava o desenho de uma bela mulher até que uma lágrima manchou o desenho. Você arrancou a folha, amassou e saiu correndo.
Peguei a folha, desamassei, dobrei e a coloquei na carteira, decidido que voltaria lá todos os dias até te encontrar novamente.
Se passaram 3 meses e já tinha quase desistido, quando te vi. Tirei o desenho da carteira e caminhei até você sentando ao seu lado na escada, vendo seus olhos marejados. Encostei suavemente em seu ombro…
- Desculpa, você está bem?
Você me olhou, viu seu desenho em minhas mãos.
- Por que você está com isso?
- Desculpa, era tão bonito e pareceu carregar tanto sentimento que achei que não devia ser jogado fora.
- Ela… era… – você começou a balbuciar, as lágrimas já caindo.
- Olha, não queria te fazer chorar, posso ir…
- Pode ficar. Ela era minha esposa – respondeu brincando com a aliança pendurada num cordão.
- Sinto muito.
Você encostou a cabeça em meu ombro e te abracei. Assim ficamos até perder a noção do tempo. Quando vi sua respiração acalmar…
- Olha, ouvi dizer que um passeio no parque desabafando com desconhecidos e tomando um sorvete faz bem…
- É mesmo? – você respondeu com um sorriso entre as lágrimas.
- Sorvete tem poderes curativos.
Você levantou enxugando as lágrimas e me ofereceu sua mão, levantei e comecei a caminhar ao seu lado.
- Nós vínhamos aqui juntas, sempre de mãos dadas. Até o dia que, eu não vim. E aí aconteceu. As estatísticas se confirmaram.
- Faz tempo?
- Faz 1 ano, mas ainda dói muito. Não tivemos justiça. Mas enfim… qual sabores você gosta?
Me admirei mais ainda com você, não sabia toda a força que existia aí dentro. E com o tempo vieram mais sorvetes, mais desabafos, novas mãos dadas…
Escrito por: Jack Dias